sábado, 2 de outubro de 2004

Cotas Étnicas e o ensino brasileiro






por Guilherme Martins

É muito fácil criticar o governo...

A pergunta é: O que nós temos feito pelo nosso ensino? Sou tão responsável pela qualidade do ensino que tive na faculdade em que estudei, quanto o Lula pela qualidade do ensino no Brasil.

Como profissional de Recursos Humanos, nos meus processos seletivos já lidei com candidatos, estudantes ou graduados, pelas ditas "faculdades de primeira linha" (acreditem, algumas não tem suas grades revisadas há mais de 10 anos), que mal sabiam somar 2+2 ou se expressar corretamente, usando o próprio idioma da maneira adequada e formal exigida pela situação de entrevista. Por outro lado, já me deparei com muita gente da faculdade XPTO (aquela da esquina, com meia dúzia de alunos e que ainda está em processo de reconhecimento pelo MEC) que teve muito mais garra, energia e brio durantes meus processos, porque aprendeu a se virar sem contar com o dinheiro dos pais. Essa pessoa teve que, muitas vezes, subsidiar seus próprios estudos e procurar soluções mais acessíveis à sua realidade. Pode até não ter o nível de conhecimento e o preparo técnico que alguém que se formou pela faculdade de "primeira linha" tem, mas tem um diferencial único: O brilho nos olhos e a experiência de vida! Ela rompeu a bolha protecionista que a envolvia muito cedo. Pra falar a verdade, talvez ela nem tenha tido uma bolha protecionista e, consequentemente, tem mais jogo de cintura e resistência à pressão do que aquele(a) playboy/patricinha que sempre teve tudo à mão e que entra em depressão porque a "pressão" para passar na faculdade foi grande demais.

Não quero aqui, de maneira nenhuma, generalizar o comportamento de quem teve uma situação financeira melhor ou pior do que a minha, sei que muito desse ou daquele comportamento é "herdado" (não gosto dessa palavra, é absoluta demais, prefiro aprendido) dos pais ou com os pais, bem como introjetado do meio em que cresceu o indivíduo, que exerce os modelos que tem disponíveis. Meus filhos provavelmente não irão para escolas privadas renomadas durante sua vida escolar, mas serão exigidos por mim como se nelas estivessem, e sei que isso fará toda a diferença em futuros processos seletivos (incluindo o vestibular), porque eles aprenderão que não importa o nome da instituição em que estudaram, foi-se esse tempo, importa sim o proveito que a pessoa tira das informações, a orientação que recebe na sua célula social e qual o destino que ela dá para seus esforços.

É preciso parar com o pensamento derrotista "não tenho chance contra essa ou aquela pessoa porque ela se formou nessa ou naquela faculdade melhor do que a minha". Oras, é natural que nas faculdades públicas, e é aqui que vemos a verdadeira ironia da situação, as pessoas tenham um desempenho melhor. Elas tem tempo. Tempo para estudar, dedicar-se e ir a eventos na área escolhida simplesmente porque elas têm subsídio financeiro para isso. Muitas vezes, vieram desse ou daquele cursinho renomado porque seus pais pagaram mensalmente quase o valor de uma faculdade para que seus filhos aprendam novamente o que já deveriam ter condição de responder. Boa parte dos alunos dessas instituições vem de famílias com condições financeiras razoáveis, para não dizer, folgadas (já deram uma boa olhada nos estacionamentos dessas faculdades?).

Criar cotas nas faculdades é uma atitude burra. Não é essa a solução. O problema se resolverá quando os pais se conscientizarem de que têm que cobrar seus filhos por resultados e dividir a responsabilidade da educação com os professores. Para que existem as associações de pais e mestres senão para isso? Precisamos deixar de perder tempo dizendo para todos que a culpa é do governo pela qualidade de ensino ruim nas escolas públicas (tá bom, vá lá, não reprovar alunos até a oitava série do primeiro grau foi um erro!) e começar a procurar soluções mais efetivas para isso. Uma vez isso feito, não haverá a necessidade (discriminatória inclusive) de criar programas de cotas raciais, todos terão mais ou menos a mesma condição de concorrer às vagas em "faculdades de primeira linha". Me parece uma atitude hipócrita em um país em que mais de sessenta por cento da população é descendente de negros e índios. Me pergunto se haveriam vagas suficientes para todos nós.

Se é para criarmos cotas no nosso ensino público, que sejam cotas baseadas no perfil sócio-econômico e não na etnia das pessoas. Cotas que possibilitem a locomoção e estadias, se necessário, nas suas cidades de ensino para aqueles alunos com limitações financeiras, que forneça material escolar e livros didáticos (já viram quanto custam os livros no Brasil? Um absurdo!) gratuitamente, e assim por diante. É assim que vamos mudar nosso ensino, quando pararmos de nos lamentar e arregaçarmos as mangas e colocarmos nossas próprias caras à tapa...





























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